29.5.09

É jazz do coração

O que morre de morte morrida, nasce de nascimento nascido. Aqui jaz o fenecente, mas não o fim - isso é coisa deles, e eles não nos interessam. Por meio deste, a vida se entrega insana, sabor de vodka na boca e um suspiro de aurora nos olhos.



Conversa


E quando na madrugada a tosse aumentava
e os olhos cintilavam como a vida - terçã
Me irei de querer partir contigo,
ensejei fazer em mim navios e sangrar
Até as lágrimas do mar me navegarem
A centelha de teus olhos, meu porto
E tu formando cair, eu a pedir mais
Não cais, não cais, amor que o mar
secou e o sal agora é mel
Na boca de quem prometeu, não se fala
Mais que a cor do hoje
Até amanhã vou ser manhã que nasce,
sol iluminado por tua luz
Que o depois já é cruz
que minhas velas recolhem
e ameaçam apagar
Intermitentemente, como o vento
Mais mudo sim o norte, por tua ordem,
giro agora o leme a longe vista,
onde o mar abre-se ao dobrar do sol.

19.7.08

Precisar não é preciso

Adeus. Sou sessão do universo e ação do tempo no espaço, sou fragmento, e a cada repetição dessa, mosaico. O periscópio passeando sobre o real; ora caos, ora cosmos, ora caos, e toda a descontinuidade e potência do inesperado que advém dessa sina da intermitência a que fui condenado por culpa de precisamente nenhum, nenhuma. Vai ver mesmo que eu sou outra coisa. Como sempre digo "não sou antes de nada" e vou seguir não sendo e não seguindo. Oi.

13.6.08

Cultivando disposição

Me revirou tudo por dentro, tal que fiquei sem expressão: mas que era para expressar? Que haveria eu de expelir, se estava tudo aqui dentro em serena profusão, massageando o ânimo. Sei, parece mesmo egoísmo, até para mim, mas é que eu tinha outros modos e sempre me desencontrava no gesto, nas dimensões, medidas. Ainda assim, prefiro recusar as paralelas se o destino que para elas prevêem, for o de nunca se tocarem.

Deve ser tudo culpa desses dias de desencontro em que vivemos, cada vez menos convivendo e mais subvivendo. Tempos velozes, de muita informação e acessibilidade, no qual esquecemos de nós e nos perdemos. Faz parecer-nos condenados à errância, mas não faz mal: mais uma vez, me recuso a atender o mundo feito, em nome e sobrenome do novo, por brotar constantemente onde não haja relógios e fracionamento do eterno.

8.6.08

fragmentos III




Existe também nesta serena tristeza um movimento apicular, de intenso prazer dolorido, quase masoquista: mas que prazer não haverá de doer um pouco neste corpo pequeno, limitado? Que transcendência não haverá de extrapolar, reclamar o todo, quando já pelas tantas da madrugada nos depararmos com a singela figura humana frente ao espelho, singular, bela, e nos rirmos: então tomamos uma ducha de água fria e deitamos para sonhar sem descanso.

postando anacronicamente: terceiro fragmento postado, mas, salvo engano, o décimo segundo escrito.